O FAROL DAS LETRAS |
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O Quero-quero paulistano
Um dia desses, em que você anda pela rua pensativo, chovia, melhor, garoava, o que é raro atualmente. Fui, em primeira pessoa, ao cemitério visitar o túmulo do meu avô, jazigo 15. “você está bem? “sim, obrigado. E você?”, “eu também”. Foi o instante de uma pausa dramática. A garoa molhava a minha roupa preta, romântico moderno ou como dizem: EMO. Vi algo curioso, que de longe, observava-me. Olhar profundo e triste, triste e pesado, pesado e mortífero. Voou em minha direção. Pois, protegia o ninho, dois metros da li. Da li, túmulo. Observar a natureza é curioso, pois ela mantém uma relação íntima como o mundo moderno. O pássaro, que protegia o ninho, atacava em bando. Bando é uma palavra de múltiplos sentidos. Vale dizer que a minha sociedade, por vezes, parece não ter sentido. Um pulso morto, coração desacelerado. O que, de certa forma, é uma antítese do que se vê pela janela do décimo quinto andar do meu apartamento. Formigas dinossauros, isso é o que eles, eu, são, sou. Urubus sobre carniça. Morcegos diurnos. Ou talvez uma nova espécie: consumidores vorazeslatium, porque tudo ou quase tudo é latim ou parecido com, até que o anglo saxão prove o contrário: Uservoraciouslatin. A cidade é concreto, de concreto só ela mesma. O resto desfigura-se na população: um ensaio sobre a cegueira. “Já foi ao shopping esta manhã?” “Sim, mas não tive tempo de olhar tudo.” “Por quê?” “Estava lotado” Mas, você não estourou o limite do cartão de crédito?” “Sim, mas tenho outro: Cardibilatium” “Outro?!” “Sim, é do outro...” Pausa para reflexão. Passos largos, um andar quase solitário entre a gente. Apertamento em extremo leste. “Consegue ouvir a canção que vem da marmita do moto-boy?” “Qual?!” “atup euq uirap!” Entra Quem-sabe-rouba: - Senhores, não há pessoa melhor que eu, para guiá-los rumo ao progresso de nossa ideologia utópica e mentirosa, por isso no próximo Domingo, escolham corretamente. Votem conscientes. Não durmam no ponto. Caso não queiram usar o bilhete único. Única forma de transporte – sapato, ou melhor, S2. Vinte e quatro horas de proteção; exceto em caso de enchente. Aí, você usa o Bolsa Jesus nos salve, amém. A menina anda de mãos dadas com os seus sonhos materializados num sorvete de chocolate com nozes. O pai a puxa pelos cabelos, arrasta seu corpo pela sala de estar, enquanto traga o cigarro comprado no bar da esquina. A mãe lava as roupas com as marcas de sangue da noite passada, reza para que termine logo. O cobrador bate a porta, segura um malote branco e o entrega ao pai. Sem som, atira sobre a menina a angustia de um mundo pequeno. Tampa o que seria o futuro do país numa cidade tentaculizada. O sol se põe e pela janela do metrô, vejo o horizonte, antes que uma bunda gorda ou um braço podre fechem minha visão de um futuro mais promissor nesta cidade, que amo de paixão, até me enterrar sob seu calcanhar. A primeira luz, na cidade dos poetas entorpecidos pelo desejo sedutor, se acende. A noite é só uma criança... ![]() |
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