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Luiz Carlos Dias, Professor.


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No tempo do rei Qui-Fui

"Querido, já faz muito tempo desde que você partiu das Terras do Alagado rumo às Montanhas Geladas. Na sua busca frenética por novos caminhos, deixou-nos tão tristes, mas, afinal, a chama acabara e coube a você trazer uma nova esperança"...
Lá estava mamãe novamente, com o livro aberto sobre o colo, me contando mais uma história maravilhosa em meio à concretude da cidade. As janelas fechadas, a luz do abajur acesa clareava as páginas amareladas do livro "Grandes contos maravilhosos para meninos espertos" - e eu no silêncio do meu quarto abria as janelas da minha imaginação juvenil. Perdia os meus medos ante a força dos heróis escondidos entre as linhas. Já chega! Vamos dormir - dizia mamãe amigavelmente - mas, eu não queria fechar os olhos e me entregar; queria ouvir a voz do contador ressoar em meus ouvidos. Talvez escapar do amanhã...
- Pronto, e foi assim que a busca pela chama começara - mamãe fechou o livro, apagou a luz, deu-me um beijo na testa e disse para eu descansar com os anjos. Mal sabia ela que a história continuaria nos meus pensamentos enquanto aguardava o Nascer-do-Sol.
O Sol não nos pegou de surpresa. Provavelmente choveria mais tarde, bem no momento de voltar da escola. Por isso, como sempre fui despertado às 06h30 am pela voz nada amigável do meu irmão mais velho. Ao descer as escadas de madeira, o cheiro do café da manhã já era perceptível e mamãe, como sempre, vestia o avental com desenhos de frutas, além, é claro, da longa fita rosa de cetim que prendia os seus cabelos castanhos.

- Hein mãe, você acha que o rei vai conseguir a chama e salvar o reino? Mamãe então parou o que estava fazendo, olhou pela janela da cozinha, respirou fundo e se virou com a resposta entre os lábios vermelhos manchados por causa do café.
- Claro. Você não acredita nele?! Porque, eu acredito e sei que tudo ficará bem. Basta você acreditar nele também. Nunca duvide do impossível, filho. A imaginação nos torna seres melhores; pois, enxergamos o mundo muito mais colorido. Bom, acho que é hora de irem para escola. Ah, não se esqueçam de que hoje devo chegar mais tarde.
Ela falou algo a mais, mas isso ficou a cargo do meu irmão, porque, eu já estava no quintal, entrando no ônibus. A ansiedade nos faz perder momentos irreparáveis – algo que eu aprenderia mais tarde e não na escola.
As primeiras aulas passaram encobertas pelo sono que invadia meus neurônios. Nas longas fileiras de carteiras, almas em reticências e, evidentemente, eu estava navegando por mares longínquos quando tal viagem foi interrompida pelo sinal do intervalo. O novo professor de português escrevia as últimas orações na lousa, antes de dizer que, após o feriado, teríamos uma prova; um exercício diagnóstico. Professor misterioso esse! Será que ele é um agente secreto? Pensava eu. Ao sairmos, ele solicitou como lição de casa uma redação sobre histórias de suspenses e completou dizendo que todos nós deveríamos ler o texto.

- O novo professor parece muito legal. Será que vai ser sempre assim?! Porque você sabe, não sabe? Eles são bichos estranhos, parecem mansos, mas costumam dar o bote quando menos se espera. Hugo parecia um repórter investigativo analisando o perfil psicológico do professor. Mas, eu, neste momento, olhava outro horizonte, outro perfil; este muito mais feminino.

- Bom dia meninos! Não se esqueçam que hoje é dia do clube de leitura; por isso, compareçam ao auditório às 14h30. Ah, levem o livro de leitura obrigatório para as férias. Dona Mercedes pretende analisá-lo hoje. Caio tudo bem com você? Parece out, acho que deveria ir ao médico. Minha mãe conhece vários, poderia ir se consultar com algum deles; eles são pediatras. Eu não preciso de pediatras, sabe? Sou uma pré-adolescente...

Carol, a garota mais linda da turma – sim, eu sei que você não é criança; Olhava seus olhos azuis como alguém a mergulhar numa piscina funda repleta de sereias. A princesa dos meus sonhos.

- Às 14h30 hein? E Hugo vê se não leva o Bob, porque na última vez... Ah, você se lembra, né?!

- Sim, ele vomitou em todos nós. Hugo ficou corado, suas bochechas pareciam duas maçãs. Hugo tentou não levar o Bob, mas quem conhece o BOB sabe que, quando ele pede algo, deve-se fazer sem questionar.

A tarde iniciara-se modorrenta. O sol invadia as salas de aula, conferindo a elas um quê de sauna juvenil. Hugo procurava o ventilador na tentativa de se refrescar; já eu, ao lado da janela, observava o jardim e as crianças do maternal que brincavam no escorregador. Em pensar que foi ali, naquele parquinho que eu conheci a Carol...

- Pessoal, atenção, por favor! Interrompeu o diretor Straiker, ou melhor, Antonio Lobo Straiker – amanhã é dia do hino, por isso, desta vez, todas as salas deverão comparecer ao auditório assim que chegarem. Peço que não se atrasem; se isso acontecer, prometo a vocês uma suspensão significativa. Muito obrigado! E saiu sem fechar a porta, deixando-nos entre o espanto e risos por entre os lábios. Até a professora de Artes tentou não demonstrar tal falta de respeito àquele ser minúsculo.

Após todo o processo educativo, enfim, chegara a melhor hora do dia – o clube de leitura da Dona Mercedes.

As portas do auditório estavam semi-abertas, um ar mofado saia das frestas escondidas atrás das cortinas do saguão. O silêncio um tanto constrangedor construía a áurea misteriosa que invadia minha alma desgarrada. “Abriram-se as portas; uma luz avançou rapidamente e me atingiu o peito aberto. Os olhos giraram-me a face, em seguida, desmoronei – tinha encontrado o Mal. Encarei-o depois de um longo tempo. A poucos metros, o Templo de Quin e provavelmente a chama estaria ali. Mas, desta vez, não conseguiria alcançar. O Mal tinha me arrebatado, como a gente faz com as ovelhas do reino”...

- Hei meninos, vocês poderiam prestar atenção no que eu estou falando?!

A voz rouca da Dona Mercedes interrompeu o meu sonho. O Templo de Quin deve ser um lugar maneiro; mas assustador – esse pensamento circulava minha imaginação.

- Carol, por favor, gostaria de ler a parte na qual a feiticeira declara o seu amor e se entrega ao Reino dos Espectros?

Todos riram baixinho, mas Carol como sempre se mostrou a fim de participar da leitura compartilhada. Certa vez, ela me disse que gostaria de ser atriz – na verdade, um dia estaria na Broadway. Beleza tinha.

“Espero que você tenha conseguido, meu amor. Mas, o tempo é fatal – rompe os laços do presente. Por isso, devo me entregar à este Reino dos Infelizes como a ovelha mais velha na hora do sacrifício. Serei o alimento para o equilíbrio. A Terra do Alagado já não é mais a mesma; os templos foram invadidos e temo que, em pouco tempo, todo o reino será destruído. O meu coração segue seus passos... Triste de nós não mais estarmos vivos, quando o Sol nascer outra vez em nossos espíritos alados. Podem me levar Espectros... O poço era fundo, muito fundo; de repente, o som foi substituído pelo silêncio e já não se ouvia mais nada – a feiticeira estava morta”.

Carol terminou a leitura com os olhos cheios de lágrimas e um suspiro deliciosamente delicado.












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