O FAROL DAS LETRAS |
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O testemunho do pássaro azul
A floresta mantinha-se
silenciosa depois do último ataque...
O quarto é retangular e extremamente
abafado. Há uma única janela no centro da parede à esquerda da cama de madeira
nobre. A menininha do coração da mãe, com seus longos cabelos loiros, está
sentada diante do espelho esperando que algo diferente aconteça. Enquanto as
mãos seguram firmemente um envelope, cujo brasão real, um dia, pertencera a sua
família, os
olhos fechados tentam enxergar nos pensamentos soltos a resposta para a
pergunta feita. Se ela dissesse que sim, o mundo desabaria sobre sua cabeça, e
ela seria eternamente castigada por suas escolhas. Mas, caso negasse, perderia
a última chance de liberdade; de explodir a maldita porta daquele castelo decadente.
Para que manter as aparências se não há
mais nobreza? Tenho pensado se tudo
isso vale realmente a pena?! Então, resolve se levantar e olhar o gramado
seco que serve de caminho estreito até a floresta agora mais silenciosa do que
nunca. As folhas castigadas pelo vento sul caiam no riacho; os bichinhos se
escondiam entre as moitas ou em longos troncos medievais; o sol, enfraquecido
por nuvens tempestuosas, não mostrara durante todos aqueles meses um único
sinal de esperança. A menininha tem a reposta nos lábios, mas a razão a
perturba, marca com sinal a pele alva. De repente mudar as coisas de lugar
mostrou-se o melhor a fazer. A mudança viria de dentro para fora; começaria
pelo estomago, alcançando a garganta, envolvendo os dentes brancos, tateando a
língua rosada, até explodir em saliva, atingindo diretamente o peito quente do
amante. Depois, o ambiente inteiro seria incendiado por suas novas atitudes;
ela romperia o casulo para voar livre por meio das folhas secas daquela
floresta silenciosa que crescia dentro dela. Não
há fraqueza em sua árvore genealógica; guerreiros preenchiam suas células
nervosas. Mesmo sendo seus pais nobres fracassados, os antepassados reinariam
em suas veias azuladas.
A
floresta agitou-se novamente...
Num quarto outrora retangular e extremamente
abafado, nascia algo semelhante a uma mulher alterada; o casulo era rompido
bruscamente. Bem que sua mãe havia lhe dito para manter os fatos em segredo,
mas, depois da chegada daquela carta, ela fez o certo desta vez: errou em tudo
o que pôde. Os seios fartos esticavam o vestido branco; a grama seca tornara-se
verde e os animais escondidos apareceram assim que notaram as novas diretrizes.
Os bichinhos se amontoavam uns nos outros na tentativa de espiar pela janela a
mais nova princesa. Não há cantos, ou trovadores, nem romancistas ou poetas
suficientemente grandiosos que ousassem transformar, descrever, recitar,
poetizar o cenário que se vislumbrou quando o primeiro pássaro azul empoleirou-se
no beiral daquela única janela. A floresta havia se movido para dentro do
quarto e tragado de uma só vez a mulher de longos cabelos loiros, pele alva,
veias azuladas; a mulher das repostas prontas. O pássaro azul, principal
testemunha desse processo, viu os olhos encharcados de lágrimas daquela que um
dia fora uma menininha. Viu também o sorriso brilhante indicando o caminho da
liberdade adquirida, a carta com o brasão da família depositada sobre a cama de
madeira nobre, o ruflar de asas, o estilhaçar do espelho, a maldita porta ser
arrancada violentamente, o ambiente inteiro ser incendiado, enquanto o peito do
amante ardia lentamente. Assim que o cenário voltou ao normal, o pássaro azul
cantou docemente, em poucas notas, para não perturbar o desfecho. Abriu as asas
de forma que os raios de sol, que agora destruía todas as nuvens tempestuosas,
atingissem suas penugens, aquecendo o voo e clareando a mente de quem lê sem
enxergar os pontos entre parênteses. ![]()
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