O FAROL DAS LETRAS |
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Era O Dito Agnaldo Silva Alyne Lourenço Cosacnaify Gloria F. Perez Desencontros Felizes Santiago Nazarian Devaneia-se Rick Riordan Pensamentos da Noite Que tal? Songs By Karina Jücca de Melo |
A floresta mantinha-se
silenciosa depois do último ataque...
O quarto é retangular e extremamente
abafado. Há uma única janela no centro da parede à esquerda da cama de madeira
nobre. A menininha do coração da mãe, com seus longos cabelos loiros, está sentada
diante do espelho esperando que algo diferente aconteça. Enquanto as mãos
seguram firmemente um envelope, cujo brasão real, um dia, pertencera a sua
família, os
olhos fechados tentam enxergar nos pensamentos soltos a resposta para a
pergunta feita. Se ela dissesse que sim, o mundo desabaria sobre sua cabeça, e
ela seria eternamente castigada por suas escolhas. Mas, caso negasse, perderia
a última chance de liberdade; de explodir a maldita porta daquele castelo
decadente. Para que manter as aparências
se não há mais nobreza? Tenho pensado
se tudo isso vale realmente a pena?! Então, resolve se levantar e olhar o
gramado seco que serve de caminho estreito até a floresta agora mais silenciosa
do que nunca. As folhas castigadas pelo vento sul caiam no riacho; os bichinhos
se escondiam entre as moitas ou em longos troncos medievais; o sol,
enfraquecido por nuvens tempestuosas, não mostrara durante todos aqueles meses
um único sinal de esperança. A menininha tem a reposta nos lábios, mas a razão
a perturba, marca com sinal a pele alva. De repente mudar as coisas de lugar
mostrou-se o melhor a fazer. A mudança viria de dentro para fora; começaria
pelo estomago, alcançando a garganta, envolvendo os dentes brancos, tateando a
língua rosada, até explodir em saliva, atingindo diretamente o peito quente do
amante. Depois, o ambiente inteiro seria incendiado por suas novas atitudes;
ela romperia o casulo para voar livre por meio das folhas secas daquela
floresta silenciosa que crescia dentro dela.
Não
há fraqueza em sua árvore genealógica; guerreiros preenchiam suas células
nervosas. Mesmo sendo seus pais nobres fracassados, os antepassados reinariam
em suas veias azuladas.
A
floresta agitou-se novamente...
Num quarto outrora retangular e
extremamente abafado, nascia algo semelhante a uma mulher alterada; o casulo
era rompido bruscamente. Bem que sua mãe havia lhe dito para manter os fatos em
segredo, mas, depois da chegada daquela carta, ela fez o certo desta vez: errou
em tudo o que pôde. Os seios fartos esticavam o vestido branco; a grama seca tornara-se
verde e os animais escondidos apareceram assim que notaram as novas diretrizes.
Os bichinhos se amontoavam uns nos outros na tentativa de espiar pela janela a
mais nova princesa. Não há cantos, ou trovadores, nem romancistas ou poetas
suficientemente grandiosos que ousassem transformar, descrever, recitar,
poetizar o cenário que se vislumbrou quando o primeiro pássaro azul empoleirou-se
no beiral daquela única janela. A floresta havia se movido para dentro do quarto
e tragado de uma só vez a mulher de longos cabelos loiros, pele alva, veias
azuladas; a mulher das repostas prontas. O pássaro azul, principal testemunha
desse processo, viu os olhos encharcados de lágrimas daquela que um dia fora
uma menininha. Viu também o sorriso brilhante indicando o caminho da liberdade
adquirida, a carta com o brasão da família depositada sobre a cama de madeira
nobre, o ruflar de asas, o estilhaçar do espelho, a maldita porta ser arrancada
violentamente, o ambiente inteiro ser incendiado, enquanto o peito do amante
ardia lentamente. Assim que o cenário voltou ao normal, o pássaro azul cantou
docemente, em poucas notas, para não perturbar o desfecho. Abriu as asas de
forma que os raios de sol, que agora destruía todas as nuvens tempestuosas,
atingissem suas penugens, aquecendo o voo e clareando a mente de quem lê sem
enxergar os pontos entre parênteses. |
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