O FAROL
DAS LETRAS
iníciopublicaçõesmural dos alunos
"Um mar de possibilidades, onde a voz do escritor ecoa sobre as ondas"...
Luiz Carlos Dias, Professor.


Era O Dito
Agnaldo Silva
Alyne Lourenço
Cosacnaify
Gloria F. Perez
Desencontros
Felizes

Santiago Nazarian
Devaneia-se
Rick Riordan
Pensamentos
da Noite

Que tal?
Songs By Karina
Jücca de Melo




Apaacultural
Bernard Cornwell
Bichinhos de Jardim
Book Bird
Camara Brasileira
Casa das Rosas
Diário de Um Banana
Editora Andross
Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil

Livraria Cultura
Livraria Saraiva
Movimento Brasil Literário
Neil Gaiman
O Barco
O Livreiro
O Teatro Mágico
Omelete
Portal Literal
Rua do Berro
Times Literary Supplement


18h00 em São Paulo

Ele ainda estava lá. Vestia um sobretudo preto com calças jeans pretas. Seu cabelo castanho, ainda molhado pelas gotas de água que caiam da chuva do entardecer, dava-lhe um ar melancólico. Em pé, em cima do prédio, na beira de uma avenida movimentada, fitava pacificamente o horizonte. Do seu lado, um bilhete, do outro, o par de sapatos de couro e a pasta, que ganhou da namorada no último natal. Eram visíveis as lágrimas. Um olhar ameaçador, não com o outro, mas com ele próprio. Mãos suadas. O cabelo secava ao vento. As estrelas já apontavam no céu de São Paulo, mesmo que em tonalidades acinzentadas. Pegou o bilhete, parecia não acreditar. Tudo fica diferente num prédio com 25 andares. Havia passado despercebido pelos seguranças, um deles, foi seu amigo na infância. Saiu do escritório pontualmente às 16h00. Foi à cafeteria, tomou um cappuccino, chupou a bala de menta, deu um suspiro e atendeu a chamada do celular. Parecia confuso ou perdido em pensamentos longínquos. No bolso do sobretudo, encontrou o bilhete, manchado com marcas de sangue, talvez batom, mas sua inteligência já não era mais a mesma. Na infância, sempre foi um bom aluno. Sabia que ser um bom aluno é tirar dez na escola ou padecer na escola da vida. Agora aos 25 anos, a memória deu lugar a um espaço vazio. Após a leitura minuciosa, respirou fundo e decidiu que faria algo marcante e definitivo. Admirava altura, o sentimento de liberdade, que, por vezes, é sufocado pelo trabalho. A rotina esmaga o ser humano, os sonhos são mergulhados num oceano de esquecimento. No alto daquele prédio, estaria livre para dar um novo rumo a sua vida medíocre. Se tiver que fazer, faça. Preferiu subir pelas escadas, era mais saudável. Tinha um corpo atlético, não porque freqüentasse academia. Era magro e se alimentava corretamente. Chegou ao último andar, abriu a porta do terraço e sentiu o vento forte, anunciando chuva de primavera. Encaminhou-se para a beirada, olhou o horizonte, colocou a mala no chão e apertou firmemente o bilhete. Chorou e suas lágrimas se misturaram com as gotas que caiam. Ficou encharcado. Tirou os sapatos, o calcanhar tocou levemente o chão, sentiu alivio. A chuva parou, alguns raios de sol tocaram sua testa. Lá embaixo, 18h00, hora do rush. O sangue corria pelas veias, o pulso acelerado, passo a frente, passo a traz. Suspirou, lembrou da avó, da mãe, o pai fazia questão de enterrar no passado. Apagá-lo da existência. Sentiu, por alguns minutos, o gosto do bolinho de chuva, que sua mãe preparava nos finais de tarde. Agora era tudo ou nada. Preferiu o nada. Atirou-se do vigésimo quinto andar. Pode voar até seu corpo encontrar o asfalto e a atenção dos pedestres. No chão, só havia lembranças de um corpo atlético e de um futuro promissor na área jurídica. O sangue corria lateralmente para a sarjeta.





© Farol das Lettras por Luiz Carlos Dias | Design e Codificação © Ana Nogueira | Base © 16thday | Background © blogskins |