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Luiz Carlos Dias, Professor.


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Filosofia da decomposição

Do outro lado da avenida, observava-o durante o dia inteiro. Morava na esquina, no ponto de ônibus. Segurava um livro velho que havia achado no lixo de um desses prédios da classe média alta. Algo estava escrito, mas as figuras, raras, eram mais bonitas. O colorido saltava aos olhos cheios de amargura, por vezes, contemplativos. Os olhos marcam a existência humana nesta terra. Viu quando o corpo bateu no chão. Lembrou-se do rapaz naquela manhã paulistana. As pessoas passam e não notam quem está ao seu lado; ele não. Por estar escondido por de trás de trapos e de uma aparência de mendigo, o filósofo das ruas sabia o que havia acontecido. Sentou e se pôs a meditar. Tudo nasce de um ponto de encontro. O esperma e o óvulo, o amor e o ódio, a vida e a morte. A morte resgatou uma alma. As pessoas olhavam o corpo e imaginavam o que acontecera com aquele rapaz tão bonito. O bilhete voou para longe, talvez encontrasse um novo leitor a quem fizesse bem. O mendigo sabia que na roda da vida, altos e baixos não são antagônicos, mas engrenagens de um sistema maior e mais poderoso: a própria arte da vida humana. O trágico moderno, o suplicio da alma perdida, o inferno em vida, a paz celestial e o crime e o castigo por atos involuntários. Quanto tempo levaria para a decomposição do cadáver? Segundos, minutos, horas, semanas, meses, anos... O tempo é o grande médico legista, pois legitima sua morte no eterno. Ele vem puxando o carro, pede aos pedestres que se afastem, limpa o sangue e envolve o corpo em um mágico plástico preto. Os sapatos de couro e a pasta da namorada ficaram no terraço do prédio. O olhar do jovem demonstrava paz e resignação por seus atos incompreensíveis. Quisera ele vencer Cronos e ganhar os Campos Elíseos. Viraria um Deus. Ao exterminar sua vida, vagará eternamente pelos infernos e mentes humanas. Naquele momento, as pessoas concatenavam sobre o fato, apenas hipóteses. O velho mendigo tinha provas reais do que acontecera. Um jovem bonito se atira de um prédio no meio da avenida, pois amava incondicionalmente. Ao saber da traição, não agüenta e parte mundo afora numa desilusão perturbadora. Tudo mentira. Até que se prove o contrário. A garrafa de água ardente pousa sobre o papelão a sede de um ser escondido dos pensamentos humanos, enquanto olha a decomposição da filosofia na calçada. A indiferença atira sobre o homem sua finitude. Pobre mendigo, mal sabia ele que seria o próximo.





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