O FAROL
DAS LETRAS
iníciopublicaçõesmural dos alunos
"Um mar de possibilidades, onde a voz do escritor ecoa sobre as ondas"...
Luiz Carlos Dias, Professor.


Era O Dito
Agnaldo Silva
Alyne Lourenço
Cosacnaify
Gloria F. Perez
Desencontros
Felizes

Santiago Nazarian
Devaneia-se
Rick Riordan
Pensamentos
da Noite

Que tal?
Songs By Karina
Jücca de Melo




Apaacultural
Bernard Cornwell
Bichinhos de Jardim
Book Bird
Camara Brasileira
Casa das Rosas
Diário de Um Banana
Editora Andross
Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil

Livraria Cultura
Livraria Saraiva
Movimento Brasil Literário
Neil Gaiman
O Barco
O Livreiro
O Teatro Mágico
Omelete
Portal Literal
Rua do Berro
Times Literary Supplement


O Pipapai

O menino mede o céu com os olhos, presta atenção do alto do morro na grande possibilidade de vitória naquela manhã de Sábado. Sensibilidade tem, falta-lhe a experiência. Corre para dentro de casa, quase atropela o Sebastião: o gato que estava no tapete de retalhos da cozinha. No quarto-sala, puxa um papagaio feito à mão e a lata com dois carretéis de linha. A rabiola um metro e meio, estirante pronto, vento adequado. No trajeto para o quintal, resolve envergar um pouco mais a pipa; a aerodinâmica tem que ser perfeita, senão o trabalho perde a qualidade. Solta a pipa rumo ao horizonte, lá embaixo o mar verde esperança com suas ondas humanas batendo na areia branca encoberta com asfalto. Lá em cima, o céu azul celeste esperando o Capitão Nemo, antes que se torne pumbleo. O menino, quase um ninguém, sonha, com seu grande navio, naufragar as embarcações alheias. Solta a vela, digo, a linha e avança vorazmente para uma pipa pirata e irritantemente bela. Era negra com uma rabiola de uns cinco metros e uns quatro carretéis de linha. Seu ombro enverga quarenta e cinco graus. O duelo é tão difícil que parece Santiago na luta para capturar o maior peixe já pescado. Ele percebe que a estratégia está errada, pois a pipa deve ir para leste e não oeste. A mãe dá um berro da cozinha, mas ele nem se assusta, quer é mesmo pescar. Corre os dedos infantis sobre a linha branca, num toque, avança e arma o bote. Pronto! Não, quase. Recomeça. O pipapirata traça no céu uma curva e atinge o peito do Nemo. Ele escapa, mas o cansaço é visível. Não, cuidado aí não! Boom... Lá vem outro torpedo. Boom! O vento aumenta, é chuva, tempestade. O capitão assume o controle, grita, gesticula, analisa. Ouvesse um estrondo: tátátátá. Corta, corta, corta, orta, ta... Apara, apara, apara, para, ara... Pipabarco onde embarco ou desembarco. Não posso desistir, agora, agora... Pronto! Quase, falta pouco. O pipapirata desliza pelo céu como serpente marinha, seu veneno é cortante. Menino, corra agora. Só que ele é forte. A mãe grita novamente, agora com mais veemência. Ele olha e diz já vou. Aí vai ele de novo com seu capitão Nemo estampado no papel de seda. Corta o estirante do pipapirata, prende-o pela rabiola, solta a linha para ter certeza e... O pipapirata e o Alma Negra afundam pelo horizonte do morro. Só se escutam os gritos de alegria do menino Nemo. O Pipapai feito com o pai dá a maior lição quando se é criança: nunca se esqueça dos seus sonhos. É mais uma tarde em São Paulo. Ainda se vê o contorno do Nemo e seu navio PIPAPAI no céu.





© Farol das Lettras por Luiz Carlos Dias | Design e Codificação © Ana Nogueira | Base © 16thday | Background © blogskins |