O FAROL DAS LETRAS |
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Agatha e o Chinês Misterioso
Tudo na vida de Agatha era um mistério quase sempre sem solução. Às vezes, sentia-se como uma aventureira no mar, outras como um caramujo enterrado com o bumbum virado para cima. A aula de educação física sempre era a última, antes tinha português. Já era a décima quinta volta na quadra, quando o professor Eduardo mandou parar. Estefani estava doente, por isso não foi à escola. O sinal tocou, Agatha pegou sua mochila no armário e foi embora pela Rua das Palmeiras. De longe, viu Arthur e Paulo conversarem com a Daniela e a Pati. As duas garotas já tinham quinze anos, mas ao olhar, pareciam ter vinte. Agatha sentia um pouco de inveja - tá, muiiiiiita inveja - mas, quem não sente quando se tem treze anos e meio? Em casa, o cheiro da comida passava pelas paredes, atravessa o jardim e chegava na rua. Ela achou estranho o movimento de carros na porta da Dona Conceição, uma senhora de quase oitenta anos, sua antiga babá. - Mãe, cheguei! - Filha, a sua comida está no forno. - Mãe, por que a rua está tão movimentada hoje? A Dona Conceição está bem?! - Ah filha, não disseram?! A Dona Conceição vai se mudar. O filho dela Maurício veio buscá-la. Eles vão para o Recife. O coração de Agatha congelou - como assim Recife?! - Dona Conça era sua babá há treze anos e, agora, ela estava indo embora para sempre. Ela não pode evitar as lágrimas, correu para o quarto, bateu a porta - fazendo com que as folhas do caderno voassem e fossem parar no jardim. - Agatha, a Estefani ligou, disse que, quando você chegasse, era para ir na casa dela. Parece que ela consegui alguns convites para festa da Pati. Berrou a mãe da sala de estar. As lágrimas caiam como a cachoeira escorre pela montanha. No entanto, ao ouvir a palavra festa, ficou um pouco melhor. - Assim que der eu vou, mãe. Pelo menos, ela tinha o Arthur para não deixa-la triste. Isso é claro, se ele a notasse. Agatha esquecera, por alguns minutos, a festa do aniversário de dezesseis anos da Pati. Ela não é muito sua amiga, às vezes, conversam nos corredores da escola. Seu único defeito é gostar do Arthur também, que, por sinal, andava um tanto estranho ultimamente. Ele mora afastado do colégio, perto do riacho. - Agatha desça um minuto, por favor. - Já vai mãe - e a garota olhou-se no espelho para limpar os vestígios de lágrimas do rosto. Na sala, Dona Conceição e o Maurício a esperavam. - Vim me despedir, afinal, não nos veremos mais, minha filha. Agatha sentiu que ia chorar novamente. - Mãe, a senhora poderá vir quando desejar - advertiu Maurício ao olhar o rosto de Agatha. - Vou sentir saudades da senhora. - Eu também, não é caso de morte filha. - É, mas Recife é longe. - Ah, mas tem o telefone, a internet e até as cartas. As duas se abraçaram longamente. O sol se deleitava na rua. - Vamos, mãe, se não perdemos o avião. - Ah, sim. Então até mais Tata. - Tchau. Até mais, Conça. Agatha, então, deixou-se tomar pela emoção. E tanto ela, como Dona Conceição choraram e se abraçaram novamente. Da porta, podia-se ver a casa antiga da babá: um forte para meninas que estão crescendo. Já era noite, quando Agatha se lembrou da Estefani. Mas, resolveu ficar em casa. - Ah, pensei que tinha esquecido de mim. O que foi Agatha, está com uma cara triste? Questiona a amiga, ao ver Agatha deitada na cama do quarto dela. - Foi a Conça. Ela foi embora para o Recife. - Fiquei sabendo. Eu também gostava dela. Vou sentir saudades dos bolos de chocolate, que comiamos aqui à tarde. - Eu também. - Sabe Agatha, ela não era sua única amiga, estou aqui. - Eu sei, você é tudo. - Valeu! Mas, olha, tem os convites para a festa da Pati e sabe quem vai estar lá??? Balançando os convites no rosto de Agatha. - Eu sei, mas não quero ir mais. - Por quê? Seu amor vai estar lá e você quer ficar aqui, sentada nesta poltrona como sua tia avó? Agatha, nenhum príncipe encantado vai descrobrir você, se ficar com essa cara. - Tá, mas e se eu virar freira? - Que isso!!! Tá louca?! - Você sabe que a Pati ama o Arthur, e ele nem sabe que existo. - Mas, vai saber. - Como? O que você fez? - Nada, só ouvi dizer que disseram que o Arthur não gosta da Pati. Dizem que ele gosta de alguém secretamente. Por isso, tem andado estranho. - Mas, isso não quer dizer que eu tenho chances. - Pode ser um caminho, amiga. Depende de você. Eram quase dez horas da noite, quando Estefani foi embora e deixou Agatha pensando se iria ou não à festa no próximo sábado. Bem que sentia vontade, mas seu coração estava ferido. "Não se esquece de alguém de repente" - refletia a garota enrolada nas cobertas. Lá fora, começava a chover e esfriar ainda mais. No quarto, só o silêncio embalava os sonhos da garota. No outro dia, o estrago da chuva era evidente. A grama estava enxarcada, as árvores caídas e o céu nublado. Um forte vento gelado anunciava mudanças. O inverno chegava com algumas transformações na vida de Agatha. Ao acordar, ela, sem querer, derrubou o abajur. Era sábado, não tinha aula no colégio, contudo o curso de inglês a esperava. Ouviu barulhos na rua, por isso, levantou-se rapidamente e pela fresta da janela, viu algo misterioso: na frente da casa da Conça, havia um carro escuro parado com dois senhores baixos, um deles segurava uma pasta preta, o outro, ainda menor, falava ao celular. Pareciam orientais, pelo jeito que se vestiam. Agatha ouviu algo parecido com inglês e uma outra língua, talvez japonês. O senhor do celular era bem velho, a garota imaginava isso, por causa da estatura curvada e dos cabelos brancos. O mais novo, parecia ser um homem de negócios e muito agitado. "Devem ser os homens da imobiliária", pensava a garota. Por isso, desistiu de saber quem eram e desceu para tomar café. Depois do café, arrumou o material do curso de inglês, o qual ficava a duas quadras de sua casa, e ao sair, percebeu que o carro escuro já não estava mais lá. Havia um ar diferente depois que Dona Conceição havia partido. Só ficaram as lembranças das tardes incríveis. Quando passou na frente da casa dela, sentiu um aperto no peito, um nó na garganta. A casa era humilde, mas adoravelmente especial, um lar de muitos de seus amigos. Por isso, parou em frente, no entanto seu olhar, que estava distante, foi cair sobre um pedaço de papel do outro lado da rua na calçada. Agatha achou que fosse um papel qualquer, contudo resolveu atravessar a rua e pesquisar. Ainda tinha tempo até a aula começar, e o professor Peter sempre chegava atrasado. Ela pegou o papel e o analisou: "Rua Colonial de Cervantes, número (apagado), perto da escola de idiomas (ilegível)". Peço que faça o que tenha que fazer imediatamente. Essa casa deverá ser sua fortaleza e refúgio, enquanto eu estiver fora. Papai, devo voltar daqui algumas semanas. Te encontrarei lá. Beijo. Nome (riscado)". No verso do bilhete, tinha um desenho que confirmou as suspeitas de Agatha a respeito dos forasteiros misteriosos: 歡迎! Aqueles senhores eram realmente orientais e estavam na Rua Colonial de Cervantes, perto de sua casa, melhor, na casa da Dona Conçeição por algum motivo estranho. Poderiam ser terroristas em busca de um esconderijo, senhores da imobiliária, ou assassinos loucos. Contudo, deixou uma provável investigação para mais tarde, pois, nesta hora, o professor Peter já estava começando a dizer "Hi! What's up?" mas, ela ainda não estava na sala de aula. Aumentou os passos e ao chegar à escola, uma confusão tamanho dinossauro a aguardava: -Isso são horas menina?! Perguntou a coordenadora Cida - uma mulher de estatura média, cabelos loiros até os ombros, um tanto vesga. Algumas pessoas dizem que ela não toma banho, desde que o marido, Marco Antonio, faleceu. Agatha não poderia colocar a culpa no trânsito, porque da calçada do curso de inglês, podia-se ver o telhado da sua casa. Então, optou por uma desculpa teen: -Sabe Cida, tive algumas dores ontem, por isso, tomei alguns remédios. Eles me deram muiiiiiito sono, o que me fez levantar um tanto tarde. Mas, estou aqui. Minha queriiiiiiiiiiida!!! ![]() |
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