O FAROL DAS LETRAS |
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Agatha e o exército das ervilhas mutantes
Dia quente, os meninos do jardim de infância correm livremente no play. Na sala de aula do fundamental II, Agatha conta os minutos do relógio para ir embora. A aula de ciências está um porre, o professor Carlos explica lentamente as mutações existentes... Toca o sinal, Agatha fecha os livros e se encontra com a Estefani no corredor. - A aula estava muito chata. A única coisa boa era o professor, você conseguiu sentir o perfume dele? - Sim, delicioso! - Hein, Agatha, olha aqui. - O que foi Pedro? Um menino da sétima série, que fica andando atrás de todos, apareceu de repente. Dizem que ele é a prova da existência dos ETs. - Hoje, teremos uma audição no teatro da escola. Pensei, pensei e acho que você deve ir. Sua última peça foi um sucesso. Agatha tentava esquecer os seus vexames íntimos e um deles era essa peça de teatro, elaborada pela tia Cleuza no primeiro ano. Tinha duas falas: Esta é a cidade dos sonhos e eu sou o caminho. No final, esqueceu que ela era o caminho e se perdeu em lágrimas com o vestido rasgado no colo da mãe. Ao voltar do seu momento monológico, percebeu que Pedro já estava em outra tentativa com uma menina do primeiro ano do médio. - Agatha, você vai fazer o teste para a peça, como disse o Pedro? Perguntou Estefani com um toque irônico. - Você sabe que eu não me saio muito bem nessas atividades. - É. Me lembro muito bem da última. Você me derrubou do palco, quando o Jonas começou a rir de você, porque gaguejou na sua fala. Após o diálogo, Agatha foi para casa, tinha muita lição para fazer. Além disso, no final de semana, tinha a festa na casa da Pati, e o Arthur estaria lá. Seus pensamentos flutuavam entre o exercício de redação e o beijo redentor do príncipe encantado. Apesar de seus quase quatorze anos, Agatha, às vezes, se sentia como uma menina, em um conto de fadas, no qual ela fazia o papel da princesa e da bruxa má. Ela se via com um longo vestido vermelho, descendo as escadas do castelo e, à porta, seu príncipe loiro, com o cavalo branco selado, a esperava. Ele a tomava nos braços e, no momento do beijo, crescia uma espinha enorme do nariz dela, que soltava pus. Por isso, sempre que ia beijar o seu amado, fazia um enorme esforço para parar de sonhar. Caso contrário, terminaria como a bruxa da espinha do pus fedido. O quarto de Agatha era totalmente rosa, com as fotos dos artistas preferidos espalhadas nas paredes. Tinha um cheiro de morango e ao lado da escrivaninha, a janela, da qual podia se ver o imenso jardim da mãe dela. As roseiras, as orquídeas, o gramado baixo e a casa do Splock, o mascote da família. Do outro lado da rua, a casa da Estefani, com as ferramentas do Sr. Jair. A tarde encerrava-se num lindo pôr-do-sol. À noite, Agatha estava assistindo o DVD dos Jonas Brother, quando o telefone toca: - Alô? - Agatha, é a Estefani. - Oi amiga, já fez a lição? - É sobre isso que quero falar. - O que foi? - Você viu que o professor Carlos marcou uma prova, na próxima aula, sobre mutações genéticas? - Não. - Ah, que bom! Digo, você ainda não sabe, isso quer dizer que você pode ser a minha dupla. - Dupla?! - É. A prova é no laboratório e em dupla. - Tudo bem. - Que bom, vejo você amanhã, tchau. - Tchau. Agatha foi dormir pensando em mutações: ela era uma linda ET que se apaixona por Arthurion no reino encantado do professor Carlosion. A garota-menina da oitava série B sempre teve fixação por livros de mistérios, isso porque, sentia-se uma adolescente misteriosa, com milhões de segredos a serem desvendados. Ao acordar, lavou o rosto, tomou café da manhã e foi para escola. Diga-se de passagem, que sua mãe a levou até a rua, deu-lhe um beijo no rosto e colocou o lanche dentro da mochila da filha. Esse comportamento infantil, na opinião de Agatha, deixava-a um tanto constrangida. Mas, mãe é mãe, até mesmo em uma ficção - pensava enquanto caminhava. A aula de ciências era a segunda, antes tinha a de geografia com a Ana tornado. Os alunos diziam que ela falava muito alto e rápido. Ana era a professora mais velha no colégio, foi uma das fundadoras, por isso, ainda estava lá. O professor Carlos entrou e pediu aos alunos que fossem ao laboratório. No caminho, no corredor leste, sala quatro, Agatha viu seu cavaleiro loiro na aula de português. Foi o tempo de um suspiro. - Trouxeram o material? Falou o professor Carlos com seu incrível perfume. Todos concordaram com a cabeça, com exceção de Agatha que a tinha deixado na sala quatro. - Bom, pessoal, as ervilhas são... vocês devem colocar... e esperar... Agatha flutuava, Estefani a beliscava. - Acorda amiga, parece que está no mundo das nuvens. - E estou. Meu Zeus me chama. - Se você não fizer a prova corretamente, é Jesus que vai te chamar. E não estou falando de Cristo, mas do Adamastor de Jesus - o diretor. Agatha regressou dos seus sonhos a tempo de ver o professor Carlos passar ao seu lado, perguntando sobre a atividade. Que lindo! Pensava Agatha do porte do professor. - Estefani, é com um desses que eu quero casar. - Só você?! Depois do dia cansativo na escola, Agatha acabou com pena de sua amiga, pois a nota da prova tinha sido cinco. O resultado não foi o esperado pelo professor. Então, ela, por solidariedade, ficou com a meleca verde resultado da experiência com as ervilhas. Ao chegar em casa, estava cansada, por isso, resolveu ir deitar um pouco. Sua mãe havia preparado o almoço e saído para o supermercado. O quarto estava aconchegante, o vento outonal batia na janela com rispidez. Deitou-se na cama e colocou a mochila em cima da poltrona de sua tia avó Madalena. Ainda se podia ver o diário, no qual escrevia seus segredos, no chão. Nossa como estou cansada - suspirava Agatha. De repente, ouviu um barulho no corredor. Levantou-se, ainda sonolenta e chamou a mãe, mas, ninguém respondeu. Devo estar sonhando, acho que vou dormir mais um pouco. Ao virar-se, viu algo indescritível: - Olá, senhorita Agatha, posso me aproximar? A garota, ainda com uniforme da escola, esfregou os olhos, antes de responder. - Desculpe-me pelo susto, é que a senhorita me deixou esperando. Não resisti. Agatha recobrava o fôlego, seus pensamentos voavam - como é possível? - então, resolveu perguntar, afinal, aquilo falava português e, ainda por cima, sabia seu nome. - Claro que sei seu nome garota, quero dizer, MAJESTADE. Pronto, bastou a última vogal, para Agatha perder o fôlego novamente e desmaiar. Quando voltou do desmaio, reparou que aquele ser minúsculo ainda estava lá, com os olhos esbugalhados e a casca esverdeada. - Não achava que fosse tão feio. A senhorita não me conhece? Agatha teve, então, força para responder que não. Nunca passara pela cabeça da garota, que o resultado de uma prova mal sucedida fosse virar um ser falante e pensante. - Devo informar a majestade, que sou uma espécie de duende, mas um duende ervilha e do bem. Meu nome é Greenpier. Venho te dar um recado muito importante; temos um inimigo em comum, tanto para os seres humanos quanto para os legumes. Moro na Pisum Sativum, uma região distante e mágica. Você acredita em magia, não? Em fim, ela percebeu que não era um sonho e resolveu falar. - Isso tudo é muito louco. Como posso ter uma ervilha falante no meu quarto. Além disso, diz que sou majestade e coisas sobre inimigos. De que espécie de inimigo nós falamos? - Algo poderoso e impiedoso. Por isso, temos, nesse momento, um exército de ervilhas vindo para cá. O grupo de palavras exército de ervilhas dava voltas no pensamento da garota. Ela já tinha ouvido falar em exércitos na aula de história, mas, em nenhum deles, havia ervilha. - Exército?! Não estamos em guerra - e pela primeira vez, passou pela sua cabeça que estar em guerra é um problema nacional. A ervilha disse outras coisas, mas a memória de Agatha estava anestesiada, afinal, ela falava com um mutante. A guerra se aproximava, por isso, eles deveriam partir imediatamente. Antes, porém, deveriam passar na escola - o que deixou a garota mais confusa. Ela pensou em chamar a Estefani, desistiu da ideia em seguida, pois ao sair de casa, tudo era diferente. As ruas estavam desertas e a casa de sua amiga se transformara numa imensa floresta sombria. Havia uma mistura de fantástico e terror no ar. Agatha pegou o mutante nas mãos e caminhou em direção ao colégio. No caminho, refletia: Mas, se tudo mudou, é bem provável que o colégio também - contudo, do que se lembrara do diálogo, sua escola servia como um portal entre os dois mundos. O que não havia ficado claro era o motivo desta guerra; humanos e legumes? Que salada! Ao chegar à escola, agora uma fortaleza, assustou-se ao ver seu professor de Ciências metamorfoseado em um lobisomem conversando com a professora de geografia, uma ogra gigante. Sabia que era o Carlos por causa do perfume e a Ana, porque falava altíssimo. Não temos tempo corra Agatha - avisava Greenpier. No auditório, milhares de ervilhas mutantes estavam em suas vagens casulos e no fundo um ser era amarrado, como nas Viagens de Gulliver. Agatha reconhecia a voz do preso. Tentou se aproximar, no entanto, as ervilhas mutantes não deixavam. Quando conseguiu chegar perto, pode ver quem era: Estefani estava amarrada e os mutantes a espetavam com galhos. Agatha, então, tentou ajudar sua amiga, mas os legumes eram resistentes. Ela resolveu sair pisando em todos, até em Greenpier, que, agora, corria para ajudar o exército. Conseguiu soltar a amiga e as duas correram em direção ao ginásio de esportes. Um dos selvagens duendes prendeu uma das pernas da Estefani, Agatha tentou tirar, mas já era tarde: Greenpier deu um líquido para ela beber. Isso provocou uma mutação, Estefani começou a crescer e ficar verde, Agatha ficou sem reação, sua amiga era uma ervilha gigante. O exército começou a aplaudir e festejar. Greenpier então exclamou: Nossa vigança está concluída, vamos embora! mas, antes, ordenou a Estefani que engolisse sua amiga. Agatha tentou fugir, tudo em vão, sua melhor amiga a segurava e a levava em direção a boca... Agatha ouviu o sinal tocar: - Acorda amiga, acabou a aula, temos que ir embora. E você nem me ajudou com a prova. Agatha ficou aliviada, por tudo ter voltado ao normal. Em casa, depois de saber que as duas tinham tirado cinco na prova, resolvei ir deitar. No quarto, o resto da experiência a aguardava. FIM ![]() |
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