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Luiz Carlos Dias, Professor.


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Os Búfalos e o Homem da escavadeira

Garoava friamente naquela manhã de Segunda-Feira em São Paulo. Um movimento de automóveis balançava o asfalto sujo de graxa. As singelas moradias erguiam-se tortas rente à avenida principal, enquanto o córrego carregava os detritos industriais. Não há escola, porque a dignidade desapareceu em meio à toda degradação humana.
Os barracos, sem números, ou paredes sólidas, se aglutinam em desordem apocalíptica.
Oficial da justiça: Para trás, para trás. Desocupem a área.
De longe um sinal berra.
Moradores: Não podemos as nossas coisas tão lá, meu senhor.
Escutam-se passadas atordoadas saindo dos cantos escondidos.
Moradores: Meu Deus! Javé! Buda! Oxalá! Moisés! Maomé! Reis da Natureza! Espíritos!
Oficial da justiça: Vamos logo, não ficaremos aqui o dia inteiro, temos ordem para a desocupação imediata do terreno.
"Zefa tinha treze anos quando saiu do Pernambuco para São Paulo. Pesava 30 quilos ao embarcar num carro de retirantes. Sua mãe, Dona Clementina, morreu em seguida, de fome. Em São Paulo, trabalha como empregada doméstica num Hotel de Luxo. Mora aí, no número apagado".
As panelas caem e rolam pelas ruas estreitas. A garoa aperta o cerco e os helicópteros se aproximam em círculos. Chico chora no colo da mãe de dezesseis anos. Na frente do terreno, uma longa fileira de pneus é queimada. Tal ato artístico produz uma fumaça negra, espessa e triste. Us homen du bar, soldados perfilados em Tempos de Guerra, tão du lado da barricada. Gertrudes gesticula com o dedo do meio.
Oficial da justiça: Minha senhora, isso é desacato à autoridade. Não faça isso, levanta as calças, por favor.
Moradores: Aplausos.
O circo estava armado, com o público a assistir o espetáculo pela TV, ou pela conexão de banda larga.
Jornal da TV ou Conexão banda larga: Mais uma vez, assistimos a selvageria solta nas ruas: a polícia entrou em confronto com moradores num terreno particular. Até agora, não houve feridos. Quando isso vai acabar? Agora é hora da agenda cultural...
Bombas cruzam o céu e atingem os barracos sem identidades. As famílias, aos poucos, saem em retirada. Os Vira-Latas latem incansavelmente. O Batalhão de Choque se arma em defesa do proprietário inominável. Veem-se somente os escombros dos barracos incendiados.
Oficial da Justiça: Meus senhores, vocês sabem que esse terreno é particular.
Moradores: Chamem o Baiano.
Baiano, homem corpulento, o mais dado ao português, estudou até o ensino médio, pintor de profissão e representante dos moradores. Um dos PMs agarra um garotinho pelo braço e o atira no colo da avó. Meia dúzia de adolescentes ataca pedras nos carros dos policiais. Baiano tenta, sem êxito, prorrogar a desocupação. Ordem é ordem, até na desordem.
O Oficial da justiça manda chamar o Homem da escavadeira. Em poucos segundos, o monstro de metal importado chega ao terreno e ameaça invadir. Os moradores resistem com os restos dos barracos. Atiram tudo o que podem contra a escavadeira. A garoa sumiu e deu lugar a uma chuva fortemente negra. Água escorre pelos rostos dos sobreviventes e se mistura a fuligem do incêndio. A multidão enegrecida se assemelha aos búfalos africanos desgarrados da manada.
De um lado, o Homem da escavadeira, do outro, Búfalos raivosos e vorazes, em uma batalha normalmente anormal. Gritos, lágrimas, bombas, tiros, fogo, raiva, pancadaria, sangue, morte, feridos, desespero, angústia, suplica, sonhos derrotados, famílias dilaceradas, são os restos da humanidade estendidos pelo terreno.
O Homem da escavadeira entra no solo alheio e destrói o que encontra pela frente. Os Búfalos desistem da batalha e se entregam ao crocodilo, que estava submerso no rio, esperando para dar o bote, quando eles estivessem desesperados.





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