O FAROL DAS LETRAS |
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Aqui nasce, Amor, meu novo coração
As palavras a seguir pertencem a uma carta encontrada entre os cestos de lixo na Avenida Paulista. Data: 23/04/2010. As informações foram mantidas como no original. Querido Dinho, Tudo em nossas vidas foram estranhamentos, sublimações, uma enxurrada de emoções. Durante muitos anos, curvei-me diante da sua beleza; mas, agora que passaram os traumas causados pelo nosso último encontro na casa de campo no interior de São Paulo, posso me por em liberdade e te esquecer. Lembro de como eram belas as suas palavras, poéticas. Sabe, não me arrependo de tê-lo encontrado naquela nossa livraria. Os livros pendiam sobre nossas cabeças juvenis. Você com seus 17 anos - um garoto preso nos porões da adolescência. Eu estava procurando o que mesmo? Ah, um livro para a escola. Meu professor de literatura havia indicado Dom Casmurro, afinal, tal livro era exigência no vestibular. E você o pegou para mim, pois, com os meus 1,65, não alcançava a prateleira na qual residiam os livros de Machado de Assis. Engraçado como as memórias nos arrebatam de repente. Vivos eram seus olhos verdes naquela tarde de primavera. Olhos verdes que me fisgaram como a um peixe o pescador experiente. Não, você sabia muito bem que nada aconteceria além de um verdadeiro agradecimento. Contudo, os seus lábios avermelhados, incontroláveis, em conjunto com os dentes brancos pronunciaram aqueles versos, porque em sua vida a poesia é alma. Logo, eu me entreguei a estes versos carnais. Ao sairmos da livraria, em direção à estação de metrô, você segurava vários livros sobre a arte contemporânea e fez questão de levar a minha mochila rosa, presente da minha avó. O amor pedia permissão para entrar em minha alma; foi o que fiz. Abri as portas da mais humilde residência existente: o meu corpo pueril. Vivemos muitos momentos significativos, mas como já disse, nosso último encontro pôs fim a um sonho. Não quero retornar a mansão dos meus pesadelos, quero ser livre e poder caminhar sem receios ou sentimentos destrutivos. Por isso, escrevo-te essas linhas nada poéticas; na verdade, penso que elas guardam algo de muito superficial, uma vez que é impossível estabelecer uma verdade quando se está diante de um produto ficcionalizado. Acredito que me mantive verossímil. Caso não te pareça esse intento, rasgue esta carta e a queime como aqueles corpos da Idade Média, os quais te fascinavam tanto. Querido Dinho, Eduardo..., espero que siga sua vida em passos firmes rumo ao estrelado céu do futuro. Quanto a mim, digo somente estas últimas palavras, ainda presas aos meus lábios: aqui nasce, Amor, meu novo coração; infelizmente, o que não mais é seu. (Durante a leitura desta carta, pude observar que havia algo a mais escrito nela, principalmente no início, mas a letra se mostrou borrada; talvez, por causa de algumas lágrimas ou das primeiras gotas de chuva que caiam.) ![]() |
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