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Luiz Carlos Dias, Professor.


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O peixinho solitário

O azul do céu contrastava com as águas cristalinas do riacho à beira de uma área lindamente verde. As ondulações, perceptíveis aos olhos humanos, eram criadas a partir do sopro do vento que vinha do sul, enquanto, algumas crianças jogavam pedras no riacho para espantar os peixes pequeninos: dois mundos correndo em busca do futuro. A primavera deslizava seu corpo por entre as árvores verdes, instigado os pássaros a cantar melodias doces de um pré-verão. O Sol nada tímido perseguia o chão de terra batida aquecendo as águas do riacho. Lá, bem no fundo desse riacho, perdido em seus pensamentos, um peixinho chamado Sossego.
Ele muito com medo do novo, queria estar num ovo - que cara de socorro! Os olhos esbugalhados; tendo em sua frente um mundo outro. Por ele, voltaria para debaixo da barra da escama da mãe. Mas, era um peixinho lindo, dourado, como os raios do Sol que aqueciam a água, sua residência. Todos os seus coleguinhas tinham ido à escola: aulas são chatas, constrangedoras - pensava o peixinho mais que dourado, reluzente; uma luz no fundo do riacho. Ele olhava para as pedras, um momento de pedras, aquelas que as crianças jogavam na ânsia de ver as ondulações da água. As pedras estavam no meio do caminho do peixinho, eram mais do que um desafio - sua morada. Não, ele não tinha uma namorada, só era um peixe tipo namorado.
Os olhos de peixe estagnados, parados do meio do riacho - um farol sem direção. É preciso saber viver, meu irmão, dizia Sr. Tubarão. Que medo que nada! Tinha pavor do que poderia acontecer se ele saísse de trás daquele monte de pedras e se encontrasse com o mundo novo. A sombra dos raios de Sol projetada no fundo do riacho deslizava cada vez mais, sinal de que o universo estava escurecendo. A vida do peixinho solitário, também. Saia daí, rapidamente. Vamos, sem medo, não seja um molusco! Quem uma vez na sua curta vida sentiu medo do novo, sabe que a consciência nos prega peças de vez em quando. E, de repente, ao percebemos isso, nos perdemos num caminho sem volta.
Seu olhar solitário, as pedras jogadas, os raios no caminho da despedida, nada era tão infeliz quanto saber que nem ao mesmo tentaria o peixe conhecer o além. Bom, o peixinho solitário, escondido em si mesmo, percebeu que o melhor seria encarar o destino, e o fez...
Da margem do riacho, uma vara com a linha e o anzol é atirada rumo às ondulações até que a linha com o seu anzol rasgassem a película invisível da água e penetrassem naquele riacho virginal. O peixinho solitário percebeu que talvez fosse a hora de sair do esconderijo e começar a viver: foi então que ele mirou, à distância, uma borboleta dourada bem próxima a encosta. Seus olhos vibraram pela primeira vez. O peito se agitou graças às batidas aceleradas do coração. Quando perceberam, estavam o peixinho e a borboleta cara a cara - o monte de pedras no meio do caminho tinha ficado para trás; talvez em outra dimensão. Que nada! Ele tinha ficado na imensidão do passado, pois, o peixinho dourado acabara de encontrar o seu futuro. 
A borboleta, há quem diga, olhou para o peixinho dourado com os olhos de ressaca, contudo ressaca embaixo d'água é meio estranho, não?! O peixinho se aproximou, girou o corpo e levemente abocanhou a borboleta; ele pode sentir o gosto do plástico misturado com o metal e um duro fisgar em seu destino pequenino. Aos poucos, conforme sua respiração ficava cada vez mais sufocante, seu corpo juvenil era elevado rumo aos céus. 
Naquele final de tarde, o peixinho solitário viu, pela primeira vez, os raios do Sol, as crianças jogando pedras, a primavera passeando pelas árvores, os pássaros cantando docemente,  as ondulações na água, o sopro de vida se esvaindo, e sentiu o coração parar. Os olhos pararam concomitantemente. A vara com a linha e o anzol trouxem o corpo do peixinho até a margem - um corpo dourado, tão lindo. 
Entre os desdos agitados do pescador, jazia o peixinho, com os olhos ainda abertos na contemplação do mundo. O pescador aproximou o corpo do peixinho de seus olhos. Dois mundos se encontraram instantaneamente. A cauda pulsava na mão - era um peixinho mesmo: bem novinho, acabara de sair do seu ovinho, em busca de um mundo vivinho. O pescador, um menininho, que aprendera com seu avô a amar as coisas pequenininhas, teve uma ideia: devolver o peixinho para o riacho. 
E o fez com tanto carinho que como num mágico momento, desses que temos algumas vezes ao longo de nossas vidas mesquinhas, ele trouxe de volta a vida à aquele peixinho, dourado. Sendo este muito agradecido por ter tido alguém que o havia amado pela primeira vez na vida. O peixinho dourado sentiu o ar retornar e com ele a esperança, a coragem de encarar tudo com menos medo; afinal era um namorado. O pescador sorriu, olhou para o céu e sentiu que a vida valia muito, muito mesmo, pois ele tinha a sua volta um mundo sem solidão. 






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